
O tema do racismo, provavelmente novidade entre nós, acaba por ser desperdiçado pelo estilo ligeiro de Mário Domingues. É pena.
(um parágrafo, cap. V)
«Estonteado pelo infernal ruído e pela luz mórbida que pairava no ambiente, o seu cérebro não raciocinava, mal tinha tempo de registar mil e uma impressões díspares, que lhe doíam como mil e uma picadas impiedosas. As notas graves, prolongadas, do saxofone despertavam-lhe na alma ecos gemebundos e doloridos. O movimento vertiginoso do bailado provocava-lhe estranhas ilusões de óptica e via então, obliquadas em sentidos opostos, as linhas perpendiculares da sala, ao mesmo tempo que a horizontalidade das mesas balanceava confusamente, como se o clube fosse um salão de transatlântico que ondas tempestuosas agitassem.»
Mário Domingues, O Preto do «Charleston» (1930)
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