domingo, 28 de setembro de 2014

leituras de 2014 #48 - A FEIRA DOS IMORTAIS / O SONO DO MONSTRO

A pareceria Bilal / Christin deu-me uma das melhores bd's políticas que já li: A Caçada. Neste álbum duplo, que reúne A Feira dos Imortais (1980) e O Sono do Monstro (1998), o autor sérvio está a solo como abordagens s-f- aos temas do totalitarismo e das guerras nacionalistas da antiga Iugoslávia como referência remota da narrativa.
A ficção científica não é bem my cup of tea, na BD e na literatura tout court, mas Bilal desembaraça-se a contento enquanto argumentista. Como desenhador, a sua personalidade artística é muito vincada e reconhecível. 
Um dos aspectos mais interessantes desta co-edição reside, fruto da junção de duas narrativas que distam dezoito anos entre si, permitindo verificar a evolução estilística do artista -- como, de resto, é destacado na nota de apresentação: a um traço mais realista sucede-se um outro, mais elíptico e esfumado.   4****

Ficha:
Autor: Enki Bilal
títulos. A Feira dos Imortais e O Sono do Monstro
introdução: Carlos Pessoa
tradução: Catarina Labey e Pedro Cleto
colecção: «Grandes Autores de Banda Desenhada» #5
editores: Público e Edições Asa
local: Porto
ano:2008
impressão: Soctip
págs.: 134

domingo, 21 de setembro de 2014

livros de 2014 - #47 ENTRE O CÉU E A TERRA


O livro reúne duas duas intervenções do escultor, reflectindo sobre a Arte em geral, e a sua em particular. E executa-o com grande profundidade e uma solidez de escrita que encarreira os textos para a categoria de obras literárias, que irrefutavelmente (também) são.
Em «A história da minha vida», Chafes concebe um escultor nascido na Francónia medieval do século XIII e que, sem limitações de ou tempo de espaço, deambula entre o Norte e o Sul da Europa ao longo de mais de meio milénio, trabalhando e aprendendo com os mestres de cada época -- dos artistas das catedrais  francesas aos pré-românticos alemães. Trata-se de uma autobiografia estética, em que as inquietações e os desígnios de Chafes enquanto artista são equacionados. Como exercício estético, associo-o a Orlando, romance de Virginia Woolf e a A Arca Russa, filme de Alexander Sokurov.
O segundo texto, «O perfume das buganvíleas» é constituído por 46 fragmentos, cada um susceptível de comentário desenvolvido. Direi apenas que encontro uma marca estóica no encarar, no apreender e no justificar da morte ("A beleza é impossível sem as marcas da morte", p. 40); a consciência do dom e a responsabilidade ética que implica, acompanhada de nostalgia por uma pretensa época dourada, com o inevitável questionamento da desumanização da sociedade mercantilizada que nos coube viver, e em que o consumo se estende à arte. 
Prezo ainda a consequência que é retirada: a do artista (só não escrevo verdadeiro artista porque me lembra o Serafim Saudade) como elemento de resistência e sanidade em face da poluição mercantil que nos condiciona.   5*****

ficha: 
Autor: Rui Chafes
título: Entre o Céu e a Terra
editora: Documenta (Sistema Solar)
local: Lisboa
ano: 2012
capa: fotografia de Alcino Gonçalves sobre trabalho do autor
impressão: Guide - Artes Gráficas, Odivelas
págs.: 63

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

livros de 2014 #46 - ABCdário DO ANTIGO EGIPTO

Adoro dicionários temáticos, sínteses estimulantes entre o ponto de situação do tema proposto e a alieatoriedade quase insana com que somos comandados pelos asteriscos, que nos remetem para verbete conexo, dentro duma ordem alfabética...
Aqui, história, política, religião, literatura, artes decorativas e as outras, arqueologia -- a civilização egípcia concentrada em oitenta entradas, precedidos de um breve enquadramento histórico e sucedidos por uma cronologia que abrange do Período Pré-Dinástico (5000 - 3000 a.C.) até ao ocaso da época ptolomaica, em 30 da nossa era, com a conquista romana. Acresce um óptimo acervo iconográfico em bom papel -- que mais se pode pedir?   5*****

ficha:
Autores: Guillemette Andreu, Patricia Rigault, Claude Traunecker
título: ABCedário do Antigo Egipto
tradução: Maria João Batalha Reis
colecção: #ABCedário" #16
editora: Público
local: Porto
ano: s.d.
impressão: Printer Portuguesa
págs.: 119

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

leituras de 2014 - #45 O RETORNO

Um bom romance sobre o drama dos chamados retornados -- episódio central do pós-revolução de Abril, em que sobressai o choque cultural e consequente rejeição da "Metrópole", que responde em conformidade. Rejeição sentida principalmente por parte dos jovens, que nunca a haviam conhecido ou dela tinham uma ideia distorcida, porque mitificada, nomeadamente nos programas escolares. Decepção que acarreta um sentimento de impotência e revolta. Todos os que não fomos retornados conhecemos e tivemos parentes que o foram. Eu tenho a idade de Dulce Maria Cardoso, e lembro-me.
Esta é, pois, uma história sobre as vítimas da História, as que foram apanhadas no turbilhão em que, por um lado, se intersectaram as contingências da política interna (Guerra Colonial, Revolução e estado de pré-guerra civil, Descolonização) e, por outro, as dinâmicas geopolíticas decorrentes da Guerra Fria. Demasiado para simples pessoas que a pobreza da "Metrópole" ou o espírito de iniciativa fizeram com que fossem atraídas por essas terras de oportunidade. Daí que o mainstream político retornado espelhe uma enorme hostilidade ao 25 de Abril e àqueles que o protagonizaram, militares e políticos. Os doestos com que mimoseavam Soares e Rosa Coutinho, por exemplo, são expressão patética dessa impotência.
Dulce Maria Cardoso trata o tema, não apenas com mestria literária (a chegada ao Aeroporto da Portela é um dos grandes momentos do livro), mas igualmente com sabedoria autoral, pois O Retorno é um livro que se esforça por não tomar posição. Embora se perceba a inelutabilidade histórica -- e, desse ponto de vista, não há um mínimo de justificação do colonialismo, bem pelo contrário --, o romance é feliz ao dar-nos um perfil perfeitamente normal daqueles que vieram de África: na maioria, gente comum apanhada pelo vórtice da História.
A forma como a autora o veicula é inteligentemente dada através do discurso do protagonista, Rui, um adolescente a quem, nós leitores, permitimos e compreendemos todos os desabafos, todas as invectivas, todas as perplexidades.   4****

ficha
Autora: Dulce Maria Cardoso
título: O Retorno
editora: Tinta-da-China
local: Lisboa
anos: 2013
impressão: Guide-Artes Gráficas
págs.:267

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

livros que me apetecem

(Relógio d'Água)

(Clube do Autor)

(Afontamento)

(Dom Quixote)

(Relógio d'Água)

(Chili Com Carne)