sábado, 25 de fevereiro de 2017

microleituras

Um dos primeiros livros publicados por Camilo Castelo Branco participa desta literatura, com «Maria. não Me Mates que Sou Tua Mãe!» (1848), como é referido pelo autor desta síntese notável de enquadramento e análise dum género tão peculiar, caído em desuso não há muito. Literatura de cordel, literatura de cego, vendido por feiras e mercados deste país, histórias fabulosas, relatos de viagem, episódios do ciclo arturiano, do último feito notável ou do último crime cometido, verso,drama e prosa de proveito e exemplo que leitores e ouvintes (não esquecer o analfabetismo endémico), consumiam gulosamente. Que o dissesse Ferreira de Castro, ainda criança, com a História do João Soldado -- um must da literatura de cordel.

incipit: «A designação "literatura de cordel" recobre, no uso dos especialistas,, um conjunto imenso e instável de obras que eram penduradas para exposição e venda em cordéis distendido entre dois suportes, presos por pregos ou alfinetes, em paredes de madeira ou na rua, podendo também pender dos braços da da cintura de vendedores ambulantes.»  

ficha:
Autor: Carlos Nogueira.
título: Literatura de Cordel: História, Teoria e Interpretação
edição: 2.ª
colecção: «À mão de respigar» #5
editora: Apenas Livros
local: Lisboa
ano: 2003

domingo, 19 de fevereiro de 2017

microleituras

Missiva extraordinária, com tudo o que tem de excessivo e profundamente sentido, emanado da personalidade trágica de Mouzinho de Albuquerque (1855-1902). Um estilo literário intenso, determinado e austero de quem estava, pelos princípios e pela formação, impedido de contemporizar. Mouzinho, que não se revia no seu tempo, «época de dissolução», culpava as elites pela desintegração do Portugal imperial. É visível uma proximidade do cesarismo de Oliveira Martins, fantasiosa teoria de enlace entre o rei e o povo, ainda não estragado pela venalidade da burguesia e alguma aristocracia. D. Carlos disse-lhe: «Faze dele um homem e lembra-te que há-de ser rei»; e Mouzinho quis fazer de Luís Filipe um rei-soldado, exército em que concentravam todas as altas virtudes pátrias de autoridade, disciplina e sacrifício. De como essa simbiose inconstitucional teria possibilidade de concretizar-se foi algo que o suicídio do aio e o regicídio, aliás torpe, não permitiram aferir.
Uma palavra para a edição miseranda, sem uma nota de contextualização, folheto provavelmente impresso para propagandear as glórias do império e do regime, por ocasião da Exposição do Mundo Português.

incipit: «Meu Senhor / Quando Vossa Alteza chegou à idade em que a superintendência da sua educação tinha que ser entregue a um homem Houve por bem El-Rei nomear-me Aio do Príncipe Real.»

ficha:
Autor: Mouzinho de Albuquerque
título: Carta de Mouzinho de de Albuquerque a Sua Alteza o Príncipe Real D. Luís de Bragança
edição: Agência Geral das Colónias
local: Lisboa
ano: 1940
impressão: Editorial Ática
págs.:12
tiragem: 5000