terça-feira, 21 de julho de 2015

no Roma Clube

Mário Domingues, visto por
seu filho, António Domingues
Capítulo III, breve, ficamos a saber que a mãe de César, D. Leonor, é respeitabilíssima viúva de um juiz, de hábitos austeros e moral condizente. E no seguinte, uma panorama da fauna do Roma Clube: grupo de desabafos e má-língua, com o «delicado poeta» Acácio Gentil, acompanhado pelo indefectível Cândido Gomes, à conversa com Laura e Rosette -- todos homossexuais; o círculo boémio do romancista Carlos Valongo, o desenhista, pintor e decorador Mariano Lopes e o também pintor, estrangeirado, Armando Cunha, todos parecendo personagens à clef. No meio, o visionário Pedro Fernandes, sentindo o seu cabaret como desígnio e missão civilizadora:
     «Era um apóstolo da sua ideia e dela fazia uma propaganda forte e dispendiosa nas colunas dos jornais. O seu corpo franzino era um poço inesgotável de energias lentamente consumidas naquela obra gigantesca, que considerava patriótica  e que, no dizer de Mariano, realizada no estrangeiro, em França, por exemplo granjear-lhe-ia pelo menos a roseta da Legião de Honra. Adorava o seu "cabaret" com fervoroso misticismo. Trocaria todos os prazeres, até o das mulheres, malcriadas e ordinárias que eram o seu fraco, por ver a sua obra completa. Tinha uma vaidade enorme no seu clube, a cuja prosperidade, nos momentos de entusiasmo arrebatador, ligava tão intimamente a sorte da nação que, por vezes, no seu cérebro, o dancing  e o país se confundiam duma maneira absoluta.»

Mário Domingues, O Preto do "Charleston" (1930), cap. IV.
(imagem)

Sem comentários:

Enviar um comentário