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Relato da subtracção à terra, às raízes, em direcção ao desconhecido, ao seminário, num misto de excitação e apreensão por parte do pequeno António Santos Lopes, o António 'Borralho', alcunha que será embaraço diante dos novos colegas que vão entrando no comboio, entre Castanheira (Melo?, Gouveia?) e a Torre Branca (Fundão).
Comboio, que representa, ainda no apeadeiro, da terra, o irremediável do não-retorno:
«Fechei a porta, apanhei ainda o último adeus do Calhau e sentei-me para chorar quanto quisesse. Em verdade, eu não gostaria de chorar. Mas, espoliado abruptamente da minha infância, aturdido de solidão, sentia-me quase quase bem dentro do choro.»
Há dois aspectos, para além da elaboração sobre o trauma infantil, que me interessaram: a solidão e a montanha.
Solidão que o protagonista sente rodeado de gente, na despedida da mãe, no meio dos outros seminaristas em viagem, no destino que lhe está reservado; a montanha ( a Serra da Estrela) elo de ligação à terra perdida, «a sua liberdade espacial, [...] o bafo quente de um amor perdido, a flor original de uma alegria morta.»
Solidão, ainda, diante do intimidante edifício do seminário, a sua morada nos anos que se seguiriam, num desespero munchiano:
«Quieto um momento, no longo pavor da noite, olhei do fundo da minha solidão a mole enorme do edifício e arranquei para a minha aldeia distante um grito de dor tão profundo que só eu o ouvi.»
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