terça-feira, 8 de janeiro de 2013

PREFÁCIO

1 - Uma máxima não pretende defender um ponto de vista ou indicar uma direcção; uma máxima constata, simplesmente. Não é pois um género actual.

2 - O autor de máximas procura a regra; mas não nega a excepção.

3 - O valor duma máxima não está apenas naquilo que ela diz, mas no eco que ela possa determinar na alma do leitor. Uma boa máxima não é mais, afinal, que um bom ponto de interrogação.

4 - Tem-se esquecido demasiadamente o homem como termo final de toda e qualquer actividade humana, a ponto de certas ciências se permitirem discutir soluções e tomar resoluções abstraindo quase das possíveis reacções dele. Mostrar, de tempos a tempos, um pouco o homem, e erguê-lo de novo acima de tudo o mais, terá pelo menos a vantagem de repudiar automàticamente um sem número de especulações arbitrárias e confusas, feitas em detrimento evidente da Humanidade.

5 - Há verdades que provocam gritos e protestos da direita, da esquerda outras, outras de todos os lados. Mas algumas há cujo efeito instantâneo é uma sideração. A resposta única, unânime, é o silêncio total, sob o qual dir-se-ia que uma ameaça de exterminação fermenta. Cremos de bom grado na justeza, na profundeza, na importância dessa espécie de verdades.

6 - A vida só tem de interessante aquilo que ela tem de pior. O autor de máximas, aquele que pretende fixar o que se escinde debaixo da aparência, será forçosamente um "pessimista". Os pensamentos do "optimista" não são máximas; serão, quando muito, ditirambos.

7 - O autor de máximas sobre o coração humano não cria em geral muito inimigos, pela simples razão que o leitor aplica a si mesmo as lisongeiras, e refere aos outros as restantes.


José Bacelar, Revisão -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana, Lisboa, Portugália, 1935.

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