sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

7 anotações de José Bacelar

Uma máxima não pretende defen-
der um ponto de vista ou indicar
uma direcção; uma máxima cons-
tata, simplesmente. Não é pois um
género actual.

1 - A tarefa do crítico é facilitada quando não se trata já duma primeira obra. Uma frase resolve tudo: «É pior que a anterior».

2 - Importunamos os outros se lhes pedimos a respeito do que escrevemos a sua opinião; ofendemo-los se não lha pedimos.

3 - Há uma espécie de indulgência que é a indulgência do desinteresse. Uma indulgência mil vezes nefasta -- porque igualiza tudo e todos.

4 - Gritar, vituperar, amaldiçoar -- está bem ainda. Mas ai daquele que não faz como os outros -- ai daquele que friamente levanta um pouco o véu!

5 - Procurar dizer a verdade, hoje em dia, tornou-se muito simplesmente um sinal de infantilidade. O homem de verdadeira categoria mental -- é aquele que sabe mentir bem.

6 - O filósofo deve preparar-se para ver que o abandonam aqueles mesmo que o aconselhavam a dizer toda a verdade -- quando essa verdade sai afinal mais verdadeira do que a eles lhes convinha. 

7 - Invocar a verdade com grandes atitudes na discussão dos incidentes do jogo -- eis o que agradará sempre aos contendores dum e doutro lado. Mas que um espírito mais inquieto surja, que, pondo de parte os episódios e as combinações desse jogo, demonstre muito simplesmente que os dados estão viciados, e verá voltarem-se contra ele -- tanto os amigos da mentira, como os amigos da verdade.

José Bacelar, «Prefácio» de  Revisão 2 -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana, Lisboa, Portugália Editora, 1936. 

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