quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A PRINCESA E A ERVILHA

Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa -- mas tinha de ser uma princesa verdadeira. Por isso, foi viajar pelo mundo fora para encontrar uma, mas havia sempre qualquer coisa que não estava certa. Viu muitas princesas, mas nunca tinha a certeza de serem genuínas; havia sempre qualquer coisa, isto ou aquilo, que não parecia estar como devia ser. Por fim, regressou a casa, muito abatido, porque queria uma princesa verdadeira.
Uma noite houve uma terrível tempestade; os trovões ribombavam, os raios rasgavam o céu e a chuva caía em torrentes -- era apavorante. No meio disso tudo, alguém bateu à porta e o velho rei foi abrir.
Deparou com uma princesa. Mas, meu Deus!, o estado em que ela estava! A água escorria-lhe pelos cabelos e pela roupa e saía pelas biqueiras e pela parte de trás dos sapatos. No entanto, ela afirmou que era uma princesa de verdade.
-- Bem, já vamos ver isso -- pensou a velha rainha.
Não disse uma palavra, mas foi ao quarto de hóspedes, desmanchou a cama toda e pôs uma pequena ervilha no colchão. Depois empilhou mais vinte colchões e vinte cobertores por cima. A princesa iria dormir nessa cama.
De manhã perguntaram-lhe se tinha dormido bem.
--Oh, pessimamente! Não preguei olho em toda a noite! Só Deus sabe o que havia na cama, mas senti uma coisa dura que me encheu de nódoas negras. Foi horrível.
Então ficaram com a certeza de terem encontrado uma princesa verdadeira, pois ela tinha sentido a ervilha através de vinte edredões e vinte colchões. Só uma princesa verdadeira podia ser tão sensível.
Então o príncipe casou com ela; não precisava de procurar mais. A ervilha foi para o museu; podem ir lá vê-la, se é que ninguém a tirou.
Aqui têm uma bela história!

Hans Christian Andersen, Contos de Fadas, trad. Ribeiro da Fonseca, Lisboa, Círculo de Leitores, 1989.
Colecção: «Tesouros da Literatura Juvenil».

2 comentários:

  1. "A princesa da da Ervilha" permanece, ainda hoje, bem viva na minha memória..digamos mesmo que faz parte da minha vida. Durante duas longas décadas (naquele tempo em que o teima em não passar, ela conseguiu escapar às mais ferozes limpezas sazonais: o pequeno livrinho, que caberia na palme da minha actual mão, reaparecia sempre em qualquer canto remoto do nosso extenso jardim. Mas não é tanto, (ou seria?) a presença física do livro, mas um dito familiar derivado dele/dela...Sempre que alguém demonstrava demasiada 'esquisitice', lá se ouvia: "parece a princesa da ervilha"...

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  2. Que interessante, Marilisa! O bom e velho Andersen, não é ?...

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