sábado, 19 de março de 2016

Maria Archer, «A mais velha e a mais nova» - A PRIMEIRA VÍTIMA DO DIABO #1

Incipit - «Casada a filha, assente em residência definitiva, no palácio de Lisboa, Olga, a Olga de Castro Marim, sentiu-se só e imaginou-se só no solar do Corgo.»
um parágrafo - «No Corgo riam-se agora da Gaby, desforravam-se, zombando dela, da sua sobranceria na época em que habitava o solar. Marcavam-na de alcunhas torpes, escreviam-lhe cartas anónimas. A garotada assobiava-a mal a apanhava na rua, mesmo de carro. Ela via-os e ouvia-os, exasperava-se até à alucinação, desvairava da ânsia de atirar com o automóvel sobre a manada bravia que a insultava e lhe mimava acenos indecorosos. Por fim fizeram-lhe versos achincalhantes que a raparigada dos lavadoiros públicos cantava alto, na toada das músicas vulgarizadas na Rádio. A influência dos Castro-Marim já a não protegia e ela não tinha dinheiro, não dispunha da força do dinheiro, não podia favorecer ou prejudicar ninguém pelo poder do dinheiro, e a cobardia colectiva exultava no gozo de desforrar-se insultando impunemente.» 

"A cobardia colectiva", a facilidade, o gozo de rir-se de quem decaiu.

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