quinta-feira, 21 de agosto de 2014

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«A PRIMEIRA TOSQUIA

Em pequeno eu tinha pavor a barbearias e cortes de cabelo. Bastava-me mesmo ouvir a palavra barbeiro para ficar em pele de galinha. Não sei qual seria exactamente a origem da minha fobia, mas o certo é que a simples ideia de que um dia não iria escapar àquele esquisito cadeirão giratório e à parafernália de instrumentos de tortura com que o barbeiro exercia o seu abominável mester, me causava arrepios Das poucas vezes que me atrevera a assomar à porta da barbearia da aldeia e espreitar para o interior, só me ficara o cheiro intenso e enjoativo a pó de talco e brilhantina que de lá vinha e a imagem patética de uma vítima indefesa, sentada naquele trono horrendo, imóvel e embrulhada numa enorme baeta, enquanto o»

Fernando Faria, Terra Mãe -- Crónicas de Idade Menor, Lisboa, Chiado Editora, 2010, p. 25, ls.1-12.

2 comentários:

  1. Como devem ter reparado na fotografia, até corei quando dei com este "post".
    Não esperava tal distinção.
    Muito obrigado, Exmo Blogger!

    FF

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    Respostas
    1. Ora essa, caro amigo! O seu livro, que estou a terminar, é esplêndido, e disso darei conta num próximo post.
      Um abraço

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