sexta-feira, 13 de junho de 2014

marginálias

«Apresentando-se como o reverso de uma feminilidade assisada e maternal, provocam atracção e repulsa. Na grande maioria oriundas de famílias operárias e artesãs, fizeram do próprio corpo seu instrumento de trabalho. Algumas foram obrigadas a vender-se para poderem muito simplesmente continuar vivas. As histórias de mulheres sós e abandonadas, com filhos pequenos a morrer de frio e miséria em quartos gelados, que, para sobreviverem, se lançam nas ruas "a fazer a vida" não são meras ficções de folhetinistas. Numa altura em que as classes sociais ganham forma, sem estarem definitivamente cristalizadas, numa altura em que como tão bem demonstrou Louis Chevalier*, as classes trabalhadoras se tornam classes perigosas tendo por fundo uma burguesia que entesoira e começa a querer esbanjar para obter prazer, como sabia fazer, pensa ela, a aristocracia, as prostitutas vêm baralhar as pistas, atropelam as classes sociais, inflamam o imaginário dos homens e fazem recuar as fronteiras do pudor e da respeitabilidade.»

*Classes Labourieuses et Classes Dangereuses à Paris Pendant la Première Moitié du XIXe. Siècle (Paris, 1958).

Laure Adler, A Vida nos Bordéis de França -- 1830-1930 (1990)
(tradução: Maria Assunção Santos)

2 comentários:

  1. Veio-me imediatamente à memória o filme "L'Apollonide (Souvenirs de la maison close)" que retrata, na minha opinião, esta realidade de uma forma excepcional.

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