quinta-feira, 4 de junho de 2015

«Olímpia saíra de manhãzinha, pouco depois do nascer do sol, sem casaco e sem lenço, de corpo bem feito, desprezando as leis da vila.»


Quando Simplício Varandas entra em cena, já Olímpia, a mulher, saíra de casa; e o desenrolar da acção do primeiro capítulo de Suão evoluirá sob as evocações do protagonista.
O espaço e o tempo são relativamente esfumados: uma vila ficcionada no Baixo Alentejo, Sam Jacinto, num período contemporâneo (alusão a comboios, cinema, futebol), mas, por enquanto, sem maiores definições.
As personagens principais, Simplício e Olímpia, são sujeitos de um casamento caracterizado pela incompreensão e pela mágoa. Ele, passivo, apático, melancólico; ela, sanguínea, violenta. Crispim, compadre de Simplício, e o Dr. Maldirro Real, proprietário e arrendatário das terras trabalhadas por Varandas, são personagens coadjuvantes: aos alertas de Crispim para o alegado comportamento da mulher de Simplício, causadora de falatório, contrapões a excepcional benevolência do Dr. Maldirro para com o rendeiro -- excepcional, porque intransigente com os outros rendeiros -- a que seria atribuível uma relação com Olímpia.
Para já, ficamos a saber que havia uma tensão entre ambos tornada insanável, a que Simplício atribui uma diferente origem (ela, filha de ferroviário, habituada a ver mundo, metida ali naquele fim do dito); e, infere o leitor, à sua própria esterilidade, que o diminui como homem e angustia ambos.
Olímpia interessa-me. Em próximo post, pô-la-ei a falar.  

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