sexta-feira, 31 de outubro de 2014

4 ou 5 págs.: O PALÁCIO DA AJUDA

E então eles chegaram da praia, «em estado de graça», desembocando no recinto frio do Palácio da Ajuda, quase à hora do fecho, por entre resignação funcionária e trejeitos de governanta que passava por directora daquilo. A personagem era (é) real, e o desinteresse que dela emana originou uma das mais bem esgalhadas e entesoantes linhas sobre o prazer -- neste caso, feminino -- que tenho lido. Um texto que, só por si, já valia todo o livro.

[P.S. Aquilo é mesmo frio comò caraças. Há 28 anos passei uns meses por lá a pesquisar a Gazeta de Lisboa no último lustro do reinado de D. João V (1746-1750), e só não saí dali com uma pneumonia porque era então um jovem bem constituído e, há que dizê-lo, viçoso.]

Início: «Eles vinham, em estado de graça, da praia.»
Um parágrafo: «O que faria aquela mulher à noite? Não devia ser amor com o marido. Devia ser do tipo de levar dossiers  para casa, do tipo de tomar ansiolíticos, desse tipo. Teria alguma vez bebido bourbon? Conheceria as campanhas publicitárias da Lucky Strike? Saberia o que sente uma mulher quando uma mão desliza por entre umas coxas, por debaixo de um vestido preto curtinho, que tem por sua vez por baixo umas cuecas de cetim -- que também podem ser pretas --, saberia o que sente uma mulher quando quer que um homem dominador apaixonado a penetre, mas ele não quer logo, que mais daí a pouco, e ele prossegue sorvendo-lhe o mel que ela produz de geração espomtânea, ele adorando-lhe o ventre inteiro que parece querer saltar para fora para ser acariciado? Saberia que há crianças que nascem de dias de sexo que começam de noite e acabam de dia, num qualuqer dia da semana em curso? Quais seriam as fantasias da directora do palácio? Que mais teria a directora para além de ambições prosaicas?»

Sarah Adamopoulos, A Vida Alcatifada, Lisboa, Fenda, 2007, pp. 17-21. 

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

leituras de 2014 - #53 MORTADELA & SALAMÃO -- ESTRELAS DE CINEMA!

Mortadelo e Salaminho (prefiro a designação brasileira) povoaram-me a infância. Mortadelo será sempre uma das personagens mais carismáticas da 9.ª arte, e é um achado. Por ela, o seu autor, F. Ibañez, tem lugar no panteão dos autores de BD. Mas não é impunemente que se aguenta uma série desde 1958 (!).
Nem vale a pena gastar tempo a discorrer sobre o argumento deste Estrelas de Cinema!, pelos gags  previsíveis (de há muito, de resto) e até indigentes. É possível que uma criança ainda esboce um sorriso ou solte uma gargalhada. Mas os agentes da T.I.A. já tiveram os seus tempos áureos, que, aliás, ninguém lhos tira.  2**

Ficha:
Autor: F. Ibañez
título: Mortadela & Salamão -- Estrelas de Cinema!
tradução: João Silva
editora: Edições Asa
local: Porto
ano: 2005
impressão: Grafiasa, Rio Tinto
págs.: 46

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

livros que me apetecem

Diário Íntimo de Carlos da Maia (1890-1930), de A. Campos Matos (Colibri)
Lugar Caído no Crepúsculo, de João de Melo (Dom Quixote)
Poesia Presente, de António Ramos Rosa (Assírio & Alvim)
O Reino das Casuarinas, de José Luís Mendonça (Caminho)
Teremos Sempre Paris,de Ray Bradbury (Bizâncio)






sexta-feira, 24 de outubro de 2014

leituras de 2014 - #52 CARTAS DE AMOR À VISCONDESSA DA LUZ

Enquanto houver literatura portuguesa (ou a memória dela), Garrett será sempre um dos nomes cimeiríssimos. E, portanto, nem sequer estou a contemplar a sua dimensão histórica e política, que foi grande. Não é impunemente que se escreve uma obra-prima absoluta (Frei Luís de Sousa), a melhor poesia do romantismo português (Folhas Caídas) ou se inaugura o romance moderno em língua própria (Viagens na Minha Terra). É o primeiro escritor português da primeira metade do século XIX, e só uma pessoa pode com ele ombrear, principalmente graças a monumental e fundadora obra de historiador: Alexandre Herculano.
Vem isto a propósito das Cartas de Amor à Viscondessa da Luz. Sobre Eça de Queirós (outro gigante), Vergílio Ferreira disse qualquer coisa parecida com isto: dele tudo nos interessa, até a conta da lavandaria. Estas cartas são obra paraliterária, não foram escritas para publicação e reflectem um estado emocional alterado. Embora a epistolografia possa ostentar-se os galões de literatura de pleno direito -- vários foram os autores que viram as suas cartas equiparadas à obra mais séria, quando não suplantá-la: estou a lembrar-me de obras-primas como as Cartas do Cárcere, de Gramsci ou da maior parte das missivas do Eça, sempre ele --, não é isso que se passa com estas do punho garretiano.
Não que elas seja excessivamente anódinas, bem pelo contrário; não que a sua publicação não se justificasse. Há nelas muitos elementos úteis para estudo em várias áreas.
São cartas de tal modo pessoais, unívocas, íntimas e obsessivamente repetitivas, que valem por essa expressão extrema de amor ardente e transgressor, penetrando de tal forma na intimidade do escritor que valem por essa verdade desvelada. Felizmente, o Pessoa já nos dera o antídoto para as cartas de amor -- e além do mais, que diabo!, esta paixão deu-nos as Folhas Caídas... 22 cartas que se salvaram, dentre as centenas que foram escritas e trocadas. Um milagre, portanto. É a segunda vez que se publicam, depois da edição de José Bruno Carreiro, que assinalou, em 1954, o centenário da morte de Garrett, um trabalho impecável do investigador brasileiro Sérgio Nazar David.
Em duas palavras: Rosa Montúfar Infante, espanhola lindíssima, mulher do Visconde da Luz, militar e político de destaque, é amante de Almeida Garrett na segunda metade da década de 1840 até ao início do decénio seguinte. de Garrett temos a ideia do escritor quase-dândi, viril e sedutor com as mulheres, o eco do tribuno de voz bem colocada e palavra assertiva, do homem de acção que foi um dos bravos do Mindelo. ler-lhe os delíquios amorosos chega a ser perturbador e incómodo, passados 160 anos da sua morte, de tal modo ele é ainda nosso contemporâneo. As cartas são patéticas -- a paixão é patética (todas as paixões o são). A que leva o número XVIII, em que testemunhamos o seu desengano, a sua ingenuidade, o seu desgosto, essa, então, é dilacerante.
Assim sendo, não estando estas cartas de Garrett nos píncaros da epistolografia portuguesa, são de enorme relevância biográfica. E mais do que isso: iluminam alguns poemas de Folhas Caídas, de um modo que não se suspeitava. Só por isso a sua edição teve toda a razão de ser.   5*****

ficha:
Autor: Almeida Garrett
título: Cartas de Amor à Viscondessa da Luz
edição: Sérgio Nazar David
apresentação: Ofélia Paiva Monteiro
colecção: «Biblioteca Primeiras Pessoa»
editora: Edições Quasi
local: Vila Nova de Famalicão
ano: 2007
impressão: Papelmunde
págs.: 222


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

4 ou 5 págs.: SIM, MAS A MÁQUINA A VAPOR É CAPAZ DE FAZER ISTO?

Folheando uma revista de consultório -- um consultório especial, como desde logo somos informados --, o narrador depara-se com uma curiosidade que lhe mudaria a vida, uma revelação, no sentido místico da coisa: "A sanduíche foi inventada pelo Conde de Sanduíche." Essa invenção, com efeitos momentosos no quotidiano da história da humanidade, e o seu inventor, tornaram-se-lhe obsessivos. De tal modo que empreendeu uma biografia do aristocrata britânico, apresentando-nos uma cronologia sucinta, com particular enfoque no processo criativo do que viria a desembocar na prosaica sandes. Essa cronologia é hilariante, como se calcula, e revela não apenas o humor culto e irónico de Allen -- os tiques pretensiosos de determinados tipos sociais de classe média alta e cultivada são constantemente trazidos ao leitor, como de resto acontece em muitos dos seus filmes --, mas demonstram também a enorme cultura do autor, que dela faz uso desabusado, para nosso deleite quase perverso.

início: «Desfolhava eu uma revista enquanto esperava que o meu beagle Joseph K. saísse da sua sessão habitual de cinquenta minutos às terças-feiras com um analista de Park Avenue -- um veterinário junguiano que, a cinquenta dólares a sessão, trabalha corajosamente para o convencer que a papada não é uma desvantagem social -- quando topei com uma frase que captou a minha atenção como se fosse um aviso de um cheque sem cobertura.»

um parágrafo: «1750: Na Primavera exibe e demonstra três fatias consecutivas de presunto empilhadas umas sobre as outras; isto desperta algum interesse, sobretudo em círculos intelectuais, mas o público em geral permanece indiferente. Três fatias de pão umas por cima das outras aumentam-lhe a reputação e, apesar de a maturidade do estilo não ser ainda evidente, é convidado por Voltaire.»

Woody Allen,  Para Acabar de Vez com a Cultura (ed. original, 1966), tradução de Jorge Leitão Ramos,  4.ª edição, Amadora, Livraria Bertrand, 1981, pp. 37-42.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

leituras de 2014 - #51 CATOLICISMO ROMANO E FORMA POLÍTICA

Carl Schmitt (1888-1985) é um autor de referência do pensamento contra-revolucionário, antiliberal e antidemocrático. Dizer só isto, aliás, é dizer pouco. Schmitt foi um nazi desde cedo; e apesar de algumas divergências, traduzidas em ataques de sectores do nacional-socialismo (em nazismo não se pode dizer "mais radicais"...), a verdade é que o autor leccionou na Universidade de Berlim entre 1933 e 1945 -- ou seja, em todo o período em que o führer e os seus sicários estiveram no poder. 
Este ensaio de 1925 pretende reagir ao ataque à Igreja Católica, que ele então denunciava, definindo-a como efectiva representação de Cristo no Mundo: «Ela representa a civitas humana, ela apresenta a cada instante a união histórica entre o devir humano e o sacrifício de Cristo na cruz, ela representa o próprio Cristo pessoalmente, o Deus que se tornou homem na realidade histórica. No representativo assenta a sua supremacia sobre uma época de pensar económico.» (p. 33) E, como seria de esperar, põe nos antípodas duma sociedade regida pela política e pelo direito (oh, ironia...), tanto capitalismo como bolchevismo, alegadamente pólos opostos duma mesma mundivisão: «O grande patrão não tem nenhum outro ideal senão o de Lenine: o de uma "terra electrificada".» (p. 28)
Schmitt oferece, portanto, a referência de um elemento não racional -- a divindade representada pela Igreja Católica -- em oposição a um sistema que não o pode contemplar -- a perspectiva demo-liberal: de um lado, como de costume, os vectores deletérios: a "técnica" e a "economia"; do outro, o institucionalismo da política estribada no direito, com as dicotomias do costume: matéria-espírito, pragmatismo-idealismo, revolução-tradição. 
Da visão da Igreja como figuração  de Deus, não posso deixar de extrapolar para uma ideia de Estado à imagem daquela, logo do "chefe" desse Estado como equiparado, senão ao próprio Deus, pelo menos soberano dessa mesma Igreja, o vigário do Deus. Daí ao endeusamento do chefe (do führer a haver), vai um pequeno passo.
Interessante como leitura e exercício, é ideologicamente intragável.   3***

ficha
Autor: Carl Schmitt
título: Catolicismo Romano e Forma Política
tradução, prefácio e notas: Alexandre Franco de Sá
colecção: «Biblioteca de Ciências Humanas»
editora: Hugin
local: Lisboa
ano: 1998
págs.: 55
impressão: Sociedade Astoria
capa: Júlio Prata Sequeira

sábado, 11 de outubro de 2014

4 ou 5 págs.: OS MISTÉRIOS DO MUNDO

O narrador não gosta de andar de avião. Não por medo de voar, mas pelos constrangimentos de segurança impostos nos aeroportos, e também por correr o riso de ter de aturar algum chato a meter conversa  do assento ao lado. Só que o chato deste voo Luanda-Lisboa não só não o era, chato, como aguçou a curiosidade do narrador sobre si.
«Os perigos do mundo» é mais um conto de Agualusa a combinar humor e uns ameaços de fantástico, deixando-nos em suspenso -- não no ar, mas no aeroporto de Dacar -- onde as personagens deste conto foram forçadas a aterrar de emergência.

o início: «Não gosto de aeroportos nem de aviões.»

um parágrafo: «Acordou duas horas mais tarde, espreguiçou-se, estalou os dedos, levantou-se e pediu licença para passar. Vi-o dirigir-se à casa de banho, cerimonioso, fúnebre, como quem se prepara para ajoelhar num confessionário. Adormeci. Não devo ter dormido muito tempo. Lembro-me que despertei com um rumor de vozes. Vinha lá da frente, da primeira classe, e rolava em crescendo na nossa direcção. Julguei que fosse um bêbado, uma discussão entre bêbados, qualquer coisa desse género. A seguir passou uma hospedeira a correr. Algumas pessoas levantaram-se tentando perceber a origem de tanto alvoroço, ouviram-se gritos, e a mesma hospedeira reapareceu, enfurecida, obrigando toda a gente a reocupar os seus assentos. Atrás de mim uma senhora começou a rezar.»

José Eduardo Agualusa, Fronteiras Perdidas (1999), 5.ª ed., Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2009, ,pp. 21-26.

«Dos perigos do riso» 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

leituras de 2014 - #50 UM LUGAR PARA OS DIAS

Uma longa carta à pessoa amada, já falecida, que é, simultaneamente, um diário, uma revisitação memorialística e um balanço, com micro-ensaios e reflexões, pequenas narrativas de viagem, poesia -- um livro compósito, enfim, que reflecte os interesses da autora. Pintora de formação, foi na escrita que Irene Lucília Andrade encontrou um lugar para os seus dias, embora a aguda capacidade observadora e descritiva não deixe, creio, de ser tributária dessa aprendizagem de base.
As observações de carácter genericamente político (em especial os relativos aos fenómenos internacionais a que vimos assistindo nos últimos anos) são talvez o menos conseguido desta obra, embora traduzam a impotência do cidadão comum diante do momentoso de que (ainda) só somos testemunhas, em diferido e por vezes em directo; e, nesse especto, constitui um exemplo fidedigno do ambiente geral. O melhor, para mim: as evocações do passado, os pais, a infância, e a descoberta do mundo; e também os vários apontamentos, magníficos, sobre arte, em especial a pintura.  3***

Ficha
Autora: Irene Lucília Andrade
título: Um Lugar para os Dias
colecção: «Viagens na Ficção»
editora: Chiado Editora
local: Lisboa
ano: 2013
capa: Sandra Figueiredo
impressão: Chiado Print
págs.: 283

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

livros que me apetecem





T. S. Eliot e Ezra Pound -- Uma Tentativa de Aproximação, de Fernando Guedes (Verbo)
Trinta Anos de Dispersos Sobre Teixeira de Pascoaes, de António Cândido Franco (IN-CM)
As Velas da Noite, de Ana Teresa Pereira (Relógio d'Água)


leituras de 2014 - #49 A CRISE ECONÓMICA DE 1929

Crónica do crash bolsista de 1929, que levaria à Grande Depressão, com efeitos devastadores, dento e fora dos Estados Unidos.
Galbraith, que era um académico e um economista sagaz, procedeu a um levantamento historiográfico com o à-vontade dum bom narrador, ainda por cima provido de humor -- o que, num tema árido como este, é feito de monta (não foi em vão que John Kenneth Galbraith se deixou tentar pela ficção).
A mentalidade do especulador é esta: fazer muito dinheiro com pouco trabalho e no mais curto espaço de tempo possível. A ideia  de que "dinheiro gera dinheiro" serviu em cheio com este espírito ganancioso, que uns criativos trataram de explorar em todas as suas potencialidades. Existe um bem que se valoriza tanto mais quanto a procura é maior -- é a lei da oferta e da procura, como se sabe. Simples, mas não chega: a esta mecânica elementar, acrescenta-se artificialmente valor, atribuído das formas mais variadas, de tal maneira que deixariam zonzo qualquer aldrabão de feira. Um parágrafo, como exemplo:
«Na alta da Florida o negócio [sobre terrenos para a especulação imobiliária] fazia-se através do pagamento de um sinal. Não eram os próprios terrenos que se transaccionavam, mas o direito de os comprar a determinado preço. Este direito de compra -- que se obtinha através do pagamento de 10% do valor de transacção -- podia ser vendido. Deste modo, os especuladores beneficiavam integralmente das valorizações. Verificada a valorização, o especulador podia revender o "sinal" por uma importância igual à soma do que tinha pago com a valorização.» (pp. 60-61) Escusado será dizer que, com a febre especulativa, a valorização era constante e permanente -- pelo menos até ao estoiro, algo que estava fora das cogitações dos compradores & revendedores.
Para um leigo como eu, estes episódios fazem lembrar as habilidades do subprime, já  neste século. E, interessante, há até protagonistas que se repetem: a Goldman Sachs, que esteve no olho do furação em 29. 
Estas aldrabices da criação de valor sem base de sustentação na economia real continua a ser galhardamente ensinada nas business schoolls por esse mundo fora, de Lisboa a, provavelmente, Ulan Bator, com as miseráveis consequências que se conhecem. Que os mercados, na sua desregulação, sejam entidades insusceptíveis de controlo (ou de se deixarem controlar), é algo com que convivem bem. Quem vier atrás, que feche a porta. Em caso de agitação, há sempre governantes inoperantes e gurus do mundo académico e da imprensa económica bovinamente deslumbrados com as maravilhas da finança, ou, talvez mais comum, generosamente estipendiados para papaguearem aquilo que os argentários pretendem que se veicule.
Livro pormenorizado e cuidadoso, cheio de informação publicado pela primeira vez em 1954, é um bom exercício sobre a cupidez, revelando a lamentável fragilidade humana, sempre a morder os iscos lançados pelos mais vivaços.   5*****

ficha:
Autor: John Keneth Galbraith
título: A Crise Económica de 1929
subtítulo: Anatomia de uma Catástrofe Financeira
tradução: Calado Trindade
colecção: "Universidade Moderna" #42
editora: Publicações Dom Quixote
local: Lisboa
ano: 1988
págs.: 286