sábado, 11 de outubro de 2014

4 ou 5 págs.: OS MISTÉRIOS DO MUNDO

O narrador não gosta de andar de avião. Não por medo de voar, mas pelos constrangimentos de segurança impostos nos aeroportos, e também por correr o riso de ter de aturar algum chato a meter conversa  do assento ao lado. Só que o chato deste voo Luanda-Lisboa não só não o era, chato, como aguçou a curiosidade do narrador sobre si.
«Os perigos do mundo» é mais um conto de Agualusa a combinar humor e uns ameaços de fantástico, deixando-nos em suspenso -- não no ar, mas no aeroporto de Dacar -- onde as personagens deste conto foram forçadas a aterrar de emergência.

o início: «Não gosto de aeroportos nem de aviões.»

um parágrafo: «Acordou duas horas mais tarde, espreguiçou-se, estalou os dedos, levantou-se e pediu licença para passar. Vi-o dirigir-se à casa de banho, cerimonioso, fúnebre, como quem se prepara para ajoelhar num confessionário. Adormeci. Não devo ter dormido muito tempo. Lembro-me que despertei com um rumor de vozes. Vinha lá da frente, da primeira classe, e rolava em crescendo na nossa direcção. Julguei que fosse um bêbado, uma discussão entre bêbados, qualquer coisa desse género. A seguir passou uma hospedeira a correr. Algumas pessoas levantaram-se tentando perceber a origem de tanto alvoroço, ouviram-se gritos, e a mesma hospedeira reapareceu, enfurecida, obrigando toda a gente a reocupar os seus assentos. Atrás de mim uma senhora começou a rezar.»

José Eduardo Agualusa, Fronteiras Perdidas (1999), 5.ª ed., Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2009, ,pp. 21-26.

«Dos perigos do riso» 

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