quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

#56 - FOLHAS CAÍDAS

Garrett conhecera a baronesa da Luz em 1846 e neste cenário bravio de mar, serra e pinhais viveu e consumou esse amor. Quando se publicaram os poemas respeitantes a esta relação, um ano antes da morte do poeta, já tudo não passava de recordação agridoce. Ele fora o «Pescador da barca bela» enredado na rede da sereia da qual não quis fugir. Por isso, nesse ano de 1853, a Lisboa mundana tomara conhecimento, pelas referências directas a «rosa» e «luz», recorrentes no livro. «Cascais» ao evocar o êxtase duma poderosa relação carnal – era disso, essencialmente, que se tratava, enunciado noutro poema, «Não te amo» –, dá também nota do seu declínio. Ao «Céu na Terra», à consumação fragorosa da pulsão erótica num meio intocado – remetendo para a natureza primitiva e máscula da posse e da cópula –, sucede a prostração, remorso, desalento do fim: fim do prazer, fim do gozo do amor, fim da vida que se anuncia: «Inda ali acaba a Terra, / Mas já o céu não começa;». O arrebatamento de «Cascais» faz deste poema um dos grandes fragmentos da sinestesia romântica portuguesa e, com ela, da civilização europeia, que teve no Romantismo a possibilidade de o Homem confrontar e alardear a sua, ao mesmo tempo frágil e sublime, condição humana -- como se pode ver aqui   4****

Ficha:
Autor: Almeida Garrett
título: Folhas Caídas
colecção: «Livros de Bolso Europa-América» #241
editora: Publicações Europa-América
local: Mem Martins
ano: s.d.
impressão: Gráfica Europam, Mira-Sintra
págs.: 123

4 comentários:

  1. Baronesa, ou Viscondessa? (o seu a sua dona!)
    Falando sério, abriu-me o apetite... Há muito que ando com ideias de visitar esta obra.

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  2. Baronesa, primeiro, depois viscondessa, sempre por via marital. Era filha de um marquês espanhol.

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  3. Grato!
    Não digo que o saber não ocupa lugar, porque, com a idade, para entrar novo já vai saindo velho... Mas é sempre bom saber onde pomos os pés! :)

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