domingo, 26 de janeiro de 2014

um Rembrandt fora da moldura

«O rosto estava aliás singularmente desvanecido pelo cansaço da idade, e mais ainda por aqueles pensamentos que desgastam igualmente a alma e o corpo. Os olhos já não tinham pestanas, e viam-se apenas alguns traços de sobrancelhas sobre as suas arcadas salientes. Colocai essa cabeça sobre um corpo franzino e débil, rodeai-a de uma renda resplandecente de brancura e trabalhada como uma fina rede, lançai sobre o gibão negro do ancião uma pesada corrente de ouro, e tereis uma imagem perfeita desta personagem à qual a ténue luminosidade da escada emprestava ainda uma cor fantástica. Dir-se-ia uma tela de Rembrandt a caminhar silenciosamente e sem moldura na negra atmosfera de que este grande pintor se apropriou.»

Honoré de Balzac, A Obra-Prima Desconhecida (1831)
tradução: Silvina Rodrigues Lopes

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