Neste Dicionário [dos Lugares Imaginários] também convivem viajantes com não viajantes. Para conceber um lugar imaginário não é preciso sair de casa? O saber de experiência feito não conta? A imaginação é já por si uma experiência. Júlio Verne escreveu tantas e tão extraordinárias viagens e não foi um grande viajante. Em alguns casos, leu sobre o assunto e depois escreveu. Também não há registo de Dante ter ido ao Inferno, ao Purgatório ou ao Paraíso. A descrição vem toda da imaginação. Nós confiamos quando um livro nos diz que o autor esteve num determinado sítio, mas ele não precisa de ter esyado mesmo lá. Grande autores, como Ryszard Kapuscinski ou Bruce Chatwin mentiram sobre os lugares em que estiveram. Mas contam uma história ainda melhor. Os seus testemunho são mais reais do que a experiência que nós poderíamos ter. Se viajasse até Lisboa o meu relato seria seguramente muito aborrecido. M;as se lermos o romance de Pascal Mercier, Comboio Nocturno para Lisboa, entramos numa espantosa aventura. Lisboa é uma cidade que também existe por causa da imaginação de escritores que não disseram a verdade.
Entrevista a Luís Ricardo Duarte, JL #1129, 8.I.2014
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