Rogério é um industrial retirado, a quem foi diagnosticado um problema prostático, normal nos seus 59 anos, mas cuja comunicação ele interpretou como mentira piedosa do médico, que pretendera assim ocultar-lhe a natureza cancerosa da doença.
A vida deixara de ter sentido, após a morte da mãe, a quem se dedicara depois do divórcio da mulher -- a quem surpreendera numa prática sexual ultra-desviante -- e ao posterior corte de relações com a filha. Restava-lhe apenas uma amizade quase colorida com concunhada, , também ela divorciada, mas insuficiente para o preencher, já que ela prometia mais do que realmente dava.
Embora não tenha dado o tempo por perdido, longe disso, o conto lembrou-me muito certas narrativas dos anos vinte, publicadas em revistas de grande público, com um psicologismo de manual, mais destinados a provocar um certo frisson ao público burguês a que se destinavam. Uma espécie de sucedâneo das história de cordel vendidas nas feiras. Aqui, estórias de faca e alguidar, violência crua; ao invés, para os lares respeitáveis da burguesia, ambientes estranhos, atmosferas voluptuosas, peripécias erráticas de colarinho branco, baixa moralidade.
Quanto ao estilo, o de de Luís Cajão é correcto, mas não mais; e eu em literatura estou sempre à espera desse mais.
Conto publicado como "brinde de Natal". Boas práticas editoriais... 3***
Ficha:
Autor: Luís Cajão
título: O Hipocondríaco
editota: Editorial Escritor
local: Lisboa
ano: 1997
págs.: 31
impressão: Gráfica 2000
capa: ilustração de Miguel Horta
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