Breve texto de 1972. Uma vila de província, uma dessas terras fora do tempo e do mundo. Ruas com pouco movimento, casas antigas -- em Sophia "nobres mesmo quando pobres" --, mulheres de negro, vultos à janela, pessoas poucas, automóveis ainda menos. E verde, muito verde, também dos "jardins imprevistos", "docemente abandonados a uma solidão dançada pelas brisas, enquanto um longo sussurro de adeus acena de folha em folha nos ramos mais altos das árvores." Jardins que albergam o sonambulismo da vida, mesmo quando o sono de existir é perturbado por "aparições prodigiosas como o lírio, a águia e o inesquecível rosto amado com paixão"; jardins onde se encara o próprio mistério da existência.
O incipit: Vila d'Arcos fica ao Norte, um pouco para Leste, numa região de montanhas.»
Um parágrafo: «É uma cidade antiga onde estagnada se desagrega e se dissolve lentamente uma vida desvivida gesto por gesto, sílaba por sílaba.»
1972
Sophia de Mello Breyner Andresen, Histórias da Terra e do Mar, Lisboa, Edições Salamandra, 1984, pp.113-117.
Sem comentários:
Enviar um comentário