Publicado à laia de antelóquio ao elogio de Giovanni Ricciardi, (propositadamente para o colóquio em Portugal do centenário do autor brasileiro, em 2012) Jorge Amado agradece a distinção que a Universidade de bari lhe prestou, em 1990, não para si, mas para o povo brasileiro, o húmus de que brotou a sua obra romanesca. Curta alocução em que o criador de Gabriela, Cravo e Canela se reivindica como escritor com causas, combatendo tudo o que ofende a dignidade humana, muito em especial o racismo, abjecção que não podia ser mais desconforme a um certo ethos idealmente brasileiro, fundado na cultura mestiça, "essa nossa contribuição para humanismo universal." E fá-lo simultaneamente com o brio e a descontracção de quem sabe que a obra que assinou constitui um legado que só tem de prestar contas ao Tempo.
O incipit: «Aqui estou, nesta tribuna ilustre, cumulado de honra -- a alta honra de receber o título de Doutor Honoris Causa de vossa Universidade de Bari.»
Um parágrafo: «Sobre mim e minha obra literária muito se escreveu, de bem e de mal. Disseram certos críticos que não passo de um limitado romancista de putas e de vagabundos. Creio que é verdade e orgulho-me de ser o porta-voz dos mais despossuídos de todos os despossuídos. Disseram também que tenho a paixão da mestiçagem, e dizem-no com raiva racista. Honro-me infinitamente de ser um romancista da nação mulata do Brasil. Creio que, querendo ofender-me, esses críticos me exaltaram e definiram.»
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